Sem Crise: um novo jeito de cuidar da saúde mental

Stela Bruno
9 min readJun 20, 2021

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Projeto desenvolvido na formação do curso de UX Design, pela Digital House Brasil

O tema

A escolha foi feita dentre os temas do Global Grand Challenges, da Singularity University, cujas iniciativas visam resolver os principais problemas globais de saúde e desenvolvimento.

Professores

O professor Harold Schultz Neto foi o principal mentor do time, junto com o professor assistente Bruno Coelho.

Também vale destacar as aulas maravilhosas que tivemos com os professores Barbara Almeida Ladeia e Nicholas Lino.

O time

A equipe foi formada por:

  • Juliana Piva, nossa DG maravilha;
  • Matheus Falanga, nosso Figmaboy;
  • Luma Boufleur e suas provocações sempre pertinentes;
  • Nadyane Morais e sua grande visão de negócios;
  • Camila Rosa e sua oratória impecável;
  • e eu, Stela Bruno, writer e coordenadora do projeto.

O método

Todas as aulas foram voltadas a todas as etapas da metodologia double diamond, mas vou mostrar aqui os principais pontos.

E vamos de pesquisa

O tema “saúde mental” surgiu após a descoberta de alguns dados alarmantes na nossa Desk Research:

- 86% dos brasileiros têm algum transtorno mental, como ansiedade e depressão, segundo dados da OMS (fonte: VEJA);

- Especialistas da OMS dizem que o mundo se aproxima de uma crise de saúde mental, devido a pandemia de Covid-19 e suas consequências (fonte: G1);

- Pesquisa realizada pela Coordenação Estadual de Saúde Mental da Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul aponta que os atendimentos em saúde mental aumentaram durante a pandemia (fonte: SES RS).

Também identificamos que o termo “saúde mental” teve um crescimento expressivo nas buscas do Google na metade do primeiro ano de pandemia.

Levantamos algumas hipóteses na nossa matriz CSD, como pessoas que deixam de fazer terapia por vergonha e se a meditação ajuda no combate à depressão e desenhamos o nosso possível mapa de stakeholders.

E aí fomos atrás dos nossos próprios dados.

Todo o grupo divulgou a pesquisa nas redes sociais, principalmente no LinkedIn, e obtivemos 186 respostas.

Coletamos dados como:

  • O que é saúde mental para você?
  • Sentiu impacto negativo na sua saúde mental durante a pandemia?
  • Você sente que sua carga horária e/ou responsabilidades de trabalho aumentaram durante a pandemia?
  • Você se sente ansioso e/ou depressivo?
  • Você já se consultou com um psicólogo e/ou fez terapia?

O que descobrimos?

76,9% das pessoas sentiram impacto negativo na saúde mental na pandemia;

86% das pessoas alegam que estão trabalhando mais e acumulando mais responsabilidades;

Quase 75% das pessoas sofrem de ansiedade;

E cerca de 50% dos respondentes nunca fizeram terapia.

Pesado.

Desenhamos o mapa da empatia e definimos os roteiros para realizar entrevistas em profundidade. Conversamos com 10 pessoas para entender a raiz dos problemas relacionados a ansiedade.

E foi aí que conhecemos a Camila.

Pode entrar, persona

A Camila sofre de ansiedade frequente, tem plena ciência disso, mas ao mesmo tempo não encara sua saúde mental como prioridade. Ela não se vê em busca de uma terapia nesse momento. Simples assim.

Ela tenta organizar as tarefas para ter mais equilíbrio entre as suas atividades, mas não sente a motivação necessária para manter uma rotina mais saudável e acaba usando o tempo livre para assistir séries e filmes.

Com a pandemia, a promessa de crescimento profissional foi congelada e sua carreira acabou ficando estagnada, além de acumular mais responsabilidades e trabalhar mais horas no dia. Isso a leva a buscar outras oportunidades de trabalho através do LinkedIn.

Para dormir bem, faz meditação pelo app Lojong.

Logo abaixo, mostramos a jornada da persona.

Ok. E agora?

Fizemos um brainstorming no modelo “como nós podemos” para encontrar algumas possíveis soluções.

Como todos os problemas da nossa persona são relacionados ao trabalho, decidimos, inicialmente, desenvolver uma plataforma digital que auxiliasse no cuidado com a saúde mental em empresas, com conteúdos curtos em vídeos e textos, palestras e cursos voltados ao autoconhecimento, ao relacionamento interpessoal, entre outros.

Validamos essa ideia com a nossa persona e a receptividade foi bem abaixo do esperado:

“Eu sinceramente não usaria essa plataforma se minha empresa disponibilizasse, não é algo que me atrai”.

Fuen.

Com dúvidas sobre qual caminho seguir, decidimos acionar outro stakeholder: os psicólogos.

Conversamos com dois profissionais que, resumidamente, destacaram os seguintes pontos:

  • Prevenção
  • Psicoeducação

Esses dados casavam com a nossa ideia inicial, mas precisávamos mudar o caminho.

Pesquisamos sobre psicoeducação e todos os caminhos apontavam para uma saída: a terapia. Mas a nossa persona não queria fazer terapia, então a gente teria que atuar na prevenção de outra forma.

E tome canva

Primeiro, fizemos o canva da proposta de valor. Queríamos motivar, tratar a saúde mental sem falar de saúde mental (eita!), acalmar a ansiedade para melhorar todo o resto, ajudar o usuário a organizar a rotina, queríamos gamificação, interação entre usuários, prêmio de recompensa, queríamos o mundo!

Mas não é beeem assim que funciona. Mas sim, as coisas estavam tomando forma.

Desde o começo do projeto estávamos “fugindo” de fazer um app, porque o que a gente mais ouviu foi “hoje tudo vira app” e, bem, decidimos fazer um app, hihi. Mas por quê?

Porque, veja bem, a Camila representa o nosso público-alvo, que são pessoas acostumadas a usar o celular para tudo. O nosso usuário estava nos dizendo isso. E por isso validamos essa ideia com ela: bingo! Vamos fazer um app com a benção da persona.

Fizemos, então, o canva de modelo de negócios e a nossa solução foi afunilando cada vez mais. Com base nele, era hora de começar a desenvolver o produto.

caótico!

Por onde andei…

Hora de desenhar as jornadas do usuário, para desenhar um fluxo, para desenhar um MVP. Sim, um produto mínimo viável, não um app completão logo de cara.

Primeiro fizemos um storyboard:

bastante realista!

Quadro 1: Camila está trabalhando e recebe uma mensagem da sua chefe informando um baita problema que ela vai ter que resolver para ontem.

Quadro 2: Camila, cansada e cheia de trabalho, sai do ambiente para desabafar seu estresse, com o coraçãozinho explodindo numa crise de ansiedade. É quando ela recebe uma notificação no smartwatch e celular.

Quadro 3: é o Sem Crise (que a essa altura ainda não tinha nome) preocupado e querendo ajudá-la a se sentir mais calma.

Esse storyboard resultou nessa jornada:

Que resultou nesse userflow, feito por mim:

Que resultou nesse primeiro protótipo, feito pelo Matheus e que você pode navegar clicando aqui:

Queríamos fazer uma navegação simples, linear e intuitiva. Testamos e o resultado foi bem satisfatório, com alguns pontos de melhoria para o design do produto. Alguns dos comentários:

“Achei intuitivo e de fácil navegação”

“Uma das coisas que eu evito é notificação no celular, porque recebo muita coisa e me incomoda”

“Achei bem legal, gostei bastante”

“Adorei a ideia do avatar”.

Chuva de ideias

Depois que afunilamos o problema da nossa persona queríamos oferecer outros serviços que pudessem auxiliar na melhora da qualidade de vida dela, em se tratando de saúde mental.

Entrou no escopo do produto a motivação, que também é um problema dessa persona, e o sono.

Mas a gente também não queria monitorar o sono. Isso muita gente já faz. A gente queria ajudar o usuário a dormir melhor, com base em dicas simples, fazendo um registro das ações tomadas e oferecendo feedbacks para melhorar a assertividade da oferta de serviço.

E aí montamos uma arquitetura do menu principal do app:

Aqui eu preciso falar duas coisas importantes que você certamente já percebeu:

  1. Existe uma palavrinha mágica que cerca todo estudante de UX: ITERAÇÃO. Todo profissional de UX fala “você vai iterar o tempo todo”, o iniciante vai desacreditar, talvez, mas é a mais pura verdade. Em cada etapa do nosso projeto as coisas foram mudando. No MVP, que você vai ver logo logo, dá pra encontrar elementos de cada etapa do projeto, mas se você olhar bem, a cada canva preenchido, a ideia mudava um pouco, tomava mais forma. É absolutamente normal. Eu não poderia chegar aqui e colocar só as ideias que entraram no projeto, ok?
  2. Para trazer essa realidade para o artigo, eu estou usando prints do Miro e Figma usados no desenvolvimento do projeto (por isso pode não estar tããão bonito, mas tá 100% real).

Identidade

Em uma das incontáveis reuniões de equipe, queríamos definir uma identidade para o nosso produto. A essa altura já tínhamos o tom de voz leve, engraçado e cuidadoso, já tínhamos a proposta do avatar personalizável, mas a gente não tinha um mascote.

A gente não queria ir pro lado religioso e explicitamente espiritual da coisa, então nada de símbolos comumente usados em religiões orientais para representar a “força da mente”, por exemplo. A gente queria ir pro lado biológico e científico, então, inicialmente, pensamos em ter um cérebro como nosso mascote. Inclusive usamos esse símbolo em 3 das 4 apresentações do projeto. Mas ainda não estávamos satisfeitos.

Até que eu pensei “por que não usamos um bicho preguiça?”.

A preguiça é um símbolo de resiliência, de equilíbrio, a face do “um dia de cada vez”, que tinha tudo a ver com a nossa proposta.

É aí (também) que entra em ação a nossa designer gráfico-maravilha, a Ju, que desenhou algumas versões do mascote pra gente aprovar:

a preguiça da motivação ❤
sério, olha isso!

E também começaram a surgir as primeiras ideias de cores e design do app. Essa aqui foi uma que gostamos muito, mas descartamos:

spoiler: não teve gif da preguiça balançando no galho

E por quê descartamos? Bom, pela constância e padrão das cores. A gente queria que cada sessão fosse representada por uma cor que a reforçasse (psicologia das cores pura), mas isso poderia confundir nosso usuário de alguma forma, poderia não parecer o mesmo produto, entende?

Então bora pro mais difícil: achar uma cor que sirva para as 3 opções! Yay!

Nasce um MVP

Depois de 6 meses, muitos testes de usabilidade, muita pesquisa, muita iteração, suor e lágrimas, fizemos o nosso MVP (mais uma vez, Matheus arrasou demais no Figma).

  • Relax: nosso módulo de controle de ansiedade
  • Sono: nosso módulo pra te ajudar a dormir melhor
  • Motivação: nosso módulo para se organizar e começar o dia bem

Pontos importantes:

  • Os rituais são dicas e pequenas tarefas (não gosto de chamar assim, mas é o que é) para o usuário atingir o objetivo.
  • Os questionários são registros de perfil e rotina, feito pelo usuário, para cada módulo.

Sim, testamos o contraste para esse conjunto de cores e tudo certo!

Navegue aqui pela jornada de controle da ansiedade.

Style guide

Por se tratar de apenas um produto, desenhar um design system seria muita coisa, então um style guide serviu muito bem para esse desenvolvimento.

Reuni as cores, os ícones, botões e fontes para facilitar na criação das demais telas do produto:

Roadmap

Nessa primeira versão do projeto já estava contemplada uma opção de assinatura premium para um módulo chamado “Emocional”, cuja ideia é trazer para o usuário diversos conteúdos que os ajudem a lidar com suas emoções e situações cotidianas. Para isso, dependemos de parcerias com profissionais de saúde para a produção desses conteúdos.

Além disso, temos no radar uma ideia de, a longo prazo, integrar uma plataforma de terapias nessa versão premium.

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